segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Pobrezinho nasceu em Recife...

Francisco era um menino de pés no chão com seus 8 anos recém completados, um magrelo com perninhas tão fininhas que dava dó, cabelos encaracolados caídos na testa e a boca banguela num sorriso largo. Morava com sua mãe e mais 5 irmãos numa palafita de madeira e papelão na maré do Recife, sem banheiro, sem asseio, sem comida, sem cidadania. Nasceu dentro do mangue que nem carangueijo. Sua mãe era uma mulher ainda jovem mas envelhecida de tantos meninos que pariu, do sol forte na cabeça, e de tanto catar latinha para reciclar, ganhar centavos e trazer um pouco de comida para casa. O seu pai, sumiu no mundo. Chiquinho, como era chamado, era um menino sem eira nem beira, da beira da maré. Faltava tudo em sua vida, só não faltava o coração puro de criança, sem maldade e sem malícia. Chutava lata, desenhava no chão, soltava pipa, pulava de um pé só, mergulhava na maré quando estava mansa e ria de ter dor de barriga, só chorava mesmo quando sentia a barriga doer de tanta fome. Criancinha doce como todo menino de 10 anos. Mas, um dia nublado de dezembro um moço alto que ele não conhecia, disse que era o Papai Noel e que se ele fizesse um favorzinho daria para ele algo muito bom em troca. Chiquinho franziu a testa e ficou sem entender, o bom velhinho que ele via na TV não tinha pele parda, bigode fino e nem uma arma na mão, e sim o saco cheio de brinquedos. O moço disse para ele que iam brincar de avião, que se ele fizesse a brincadeira direitinho ele daria a ele um saco cheio de balinhas doces. O menino sem pestanejar, correu como um jato e entregou a encomenda assim como Papai Noel pediu. E, de tão rapidinho que foi, o Papai Noel o escolheu para ser seu fiel escudeiro, assim como eram os duendes que fabricavam os briquedos para o natal. Ele começou a pedir para chiquinho fazer o vôo de avião quase todos os dias, e já não ganhava um saco de balinhas doces e sim um dinheirinho que pagava o pão dos seus irmãos. Assim, Chiquinho se tornou o piloto de avião mais veloz do Papai Noel, que de bom velhinho já tinha mais nada, pois quando o menino se atrasava ele o enchia de cascudos. A pobre da mãe do Chiquinho não tinha o que fazer, o menino já não era mais dela, era do moço de arma da mão. Até que um dia, o menino já não conseguia mais deixar de voar. Só não voava mais nos seus sonhos. Papai Noel o forçou a usar balas, não as doces que ele tanto gostava, mas aquelas que machucam, que matam. Chiquinho neste natal está preso numa instituição de menores infratores, sem o coração puro, com maldade e com malícia. Tráfico de drogas e assassinato. Pobrezinho nasceu em Recife...

Um comentário:

Anônimo disse...

Karlinha parabéns você escreve muito bem e realmente que azar desse coitado de ter nascido em Recife.
marcosjrribeiro@hotmail.com