segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Uma menina


Ana Clara nasceu franzina, com os olhos caídos e miúdos, cabelos castanhos ralinhos. Dava pena até de pegar no colo aquele ser tão mirrado. Olhar triste de criança feliz. Cresceu com os pés descalços, subindo nas árvores, riscando o chão. Morava no mato mas perto da cidade. Criança com alma do interior, que vive perto do caus urbano. Conversava com os cachorros e gatos, corria atrás das galinhas. Cheirava a terra molhada. Clarinha como todos a chamavam, era astuta apesar da timidez, entendia tudo que os adultos falavam. Ela sabia ser silenciosa, observadora e assim fazia com que todos coubessem na palma da sua mão. Ela era pura como toda criança, rezava para o papai do céu sempre que via uma estrela. E nunca esquecia de fazer seus pedidos a Santa Clara, santinha que tinha o mesmo nome que o seu, e que alguém disse que realizava milagres. Ela tinha lápis de cor e tintas coloridas, se deitava no chão e desenhava por horas os seus sonhos. Clarinha sonhava em conhecer o mundo, e nos seus desenhos tinham mar, florestas e até a lua. Quem sabe um dia não se visitaria a lua? Beijava e dava nome a todas as suas bonecas. As de pano eram suas preferidas, principalmente as pobrezinhas que já não tinham mais olhos ou braço. Elas faziam parte de cada brincadeira e eram cuidadas como doentes em fase terminal. A vaidade só nascia na hora de fazer suas trancinhas, impecavelmente arrumadas, que em alguns minutos já estávam um emaranhado de fios soltos. Menina com carinha de anjo, Ana Clara andava dançando, flutuva e chutava bolas. Moleca, corria atrás das borboletas mas sem machucá-las, elas eram suas amigas também. Assim como os sapos, os mosquitos e as joaninhas. Ela pulava amarelinha, muros e corda. Caia no chão e chorava escondido, tinha vergonha das lágrimas. Joelhos machucados e marcas nos cotovelos. Gostava de ser beijada na testa pela sua mãe, e das cócegas que seu pai fazia em sua barriga. Ria com seu sorriso bangelo dos seus 8 anos. E ficava séria de repende com rubor nas bochechas novamente envergonhada. Ela pediu a Papai Noel uma bicicleta de presente, cor-de-rosa e sem rodinhas, mas ela não cabe na meia pendurada na janela. Meia furada menos ainda. Fora que na casa simples no meio do mato não tem chaminé e se deixar a janela aberta os mosquitos fazem a festa durante a noite. Ela pede muito na sua cartinha que ele deixe na porta de casa, mas que não esqueça dela. Seu nariz é pequeno e fino, ar altivo de menina bonita, mas sem jeito, um moleque de tranças. Clarinha que como toda criança, só queria ser criança. Rir de si mesmo. Ter dor de barriga de tanto comer manga no pé.

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