quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sensação de mudança


Fazendo um balanço de 2009 posso dizer que ele foi um ano muito intenso, aliás os últimos 3 anos foram de grande transformação na minha vida, momentos de crise em vários aspectos que me desestabilizaram inclusive emocionalmente, mas que hoje analiso só me fortaleceram como profissional e como mulher. Sinto que esse ciclo se fecha e que agora uma nova fase está por vir. É a vez da calmaria, dos objetivos realizados, de levar a vida menos a sério, tempo de deixar acontecer... Não sou vidente, cartomante ou coisa parecida, só ando tendo uma grande sensação de mudança, consigo ver minha vida andando de uma forma mais harmônica, e tendo a acreditar nas minhas intuições.
Hoje o equilíbrio faz parte da minha vida, aprendi à duras penas a usá-lo e hoje sei pacientemente fazer escolhas sem tanta ansiedade e a esperar a vida se escarregar de trazer as respostas que procuro. Continuo sonhadora mas com os pés fincados no chão. Desejo como todo mundo que o próximo ano eu tenha um crescimento profissional e financeiro, e que receba de presente um amor para vida toda com tudo que tenho direto! Mas, desejo muito mais intensamente que eu tenha saúde, assim como minha família e amigos, para buscar tudo que desejo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Organiza o Natal


Por Carlos Drummond de Andrade


Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.E será Natal para sempre.
Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Pobrezinho nasceu em Recife...

Francisco era um menino de pés no chão com seus 8 anos recém completados, um magrelo com perninhas tão fininhas que dava dó, cabelos encaracolados caídos na testa e a boca banguela num sorriso largo. Morava com sua mãe e mais 5 irmãos numa palafita de madeira e papelão na maré do Recife, sem banheiro, sem asseio, sem comida, sem cidadania. Nasceu dentro do mangue que nem carangueijo. Sua mãe era uma mulher ainda jovem mas envelhecida de tantos meninos que pariu, do sol forte na cabeça, e de tanto catar latinha para reciclar, ganhar centavos e trazer um pouco de comida para casa. O seu pai, sumiu no mundo. Chiquinho, como era chamado, era um menino sem eira nem beira, da beira da maré. Faltava tudo em sua vida, só não faltava o coração puro de criança, sem maldade e sem malícia. Chutava lata, desenhava no chão, soltava pipa, pulava de um pé só, mergulhava na maré quando estava mansa e ria de ter dor de barriga, só chorava mesmo quando sentia a barriga doer de tanta fome. Criancinha doce como todo menino de 10 anos. Mas, um dia nublado de dezembro um moço alto que ele não conhecia, disse que era o Papai Noel e que se ele fizesse um favorzinho daria para ele algo muito bom em troca. Chiquinho franziu a testa e ficou sem entender, o bom velhinho que ele via na TV não tinha pele parda, bigode fino e nem uma arma na mão, e sim o saco cheio de brinquedos. O moço disse para ele que iam brincar de avião, que se ele fizesse a brincadeira direitinho ele daria a ele um saco cheio de balinhas doces. O menino sem pestanejar, correu como um jato e entregou a encomenda assim como Papai Noel pediu. E, de tão rapidinho que foi, o Papai Noel o escolheu para ser seu fiel escudeiro, assim como eram os duendes que fabricavam os briquedos para o natal. Ele começou a pedir para chiquinho fazer o vôo de avião quase todos os dias, e já não ganhava um saco de balinhas doces e sim um dinheirinho que pagava o pão dos seus irmãos. Assim, Chiquinho se tornou o piloto de avião mais veloz do Papai Noel, que de bom velhinho já tinha mais nada, pois quando o menino se atrasava ele o enchia de cascudos. A pobre da mãe do Chiquinho não tinha o que fazer, o menino já não era mais dela, era do moço de arma da mão. Até que um dia, o menino já não conseguia mais deixar de voar. Só não voava mais nos seus sonhos. Papai Noel o forçou a usar balas, não as doces que ele tanto gostava, mas aquelas que machucam, que matam. Chiquinho neste natal está preso numa instituição de menores infratores, sem o coração puro, com maldade e com malícia. Tráfico de drogas e assassinato. Pobrezinho nasceu em Recife...

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Duas pedras de gelo


Ele levava o violão debaixo do braço. Assim, como a música do Zé Keti. Gostava até de uísque cowboy, apesar de ser urbano ao extremo, mas preferia com duas pedras de gelo. Amava o asfalto e as mulheres bonitas que atravessavam a caminho da praia com seus biquínis fio dental. Um homem boêmio de pouco mais de 40 anos e muitas histórias para contar. Um amante fugaz mas intenso. Um conquistador que nunca se esforçou em correr atrás de um rabo de saia, elas que corriam atrás do homem de pele envelhecida mas de boa aparência. Um solteiro convicto sem filhos, pelo menos que ele saiba. Alguém já disse um dia que ele era o pai de seu filho, mas os exames negaram. Ele era só. Só porque não tinha dono nesse mundo, mas nunca estava só porque tinha muitos amigos. E como tinha amigos. Na mesa do bar em que frequentava ele sentava o violão em seu colo. Boteco movimentando e frequentado pelos boêmios da cidade. O gelo no uísque tilintava. A voz saia rouca mas afinada. As moças deslustras de família ou sem família, se aproximaram e batiam nas coxas fazendo um leve som de estalo. Esse homem só podia gostar de Bossa Nova.

Fim da linha

Ela o viu de longe no bar. Coincidência ou não, na mesma mesa e bar que eles foram na primeira vez que ficaram juntos. Comida japonesa e cerveja. O coração acelerado confirmava a ansiedade de vê-lo depois de 6 meses que tudo findou entre eles. Um casal de namorados aparentemente feliz e promissor, afinal, eles já estavam juntos a 2 anos e meio antes do remate. A moça morena ficou surpresa e fingiu inicialmente que não o viu esperando uma oportunidade de cumprimentá-lo quando trocassem olhares sem querer, essas coisas de mulher. Mas, isso não aconteceu. Aquele namorado de um passado recente não levantou a cabeça para olhá-la nos olhos, para falar ou para sequer acenar. Vestia uma camisa listrada e tinha uma aparência mais envelhecida desde que ela o viu pela última vez. Ele olhava compenetradamente para o copo e apenas trocava palavras curtas com o amigo silencioso ao seu lado. Ela não entendia o porque daquela reação, se era raiva por algum motivo desconhecido, vergonha, timidez ou se no fundo aquele antigo namorado sabia que nunca tinha sido tão amado por uma mulher como foi pela aquela antiga namorada e isso o constrangia. Ela nunca vai saber e no fundo do seu coração nem queria saber, porque tudo que ela viveu ao lado dele já fazia parte do passado. O seu amor acabou como um último gole de vinho seco Cabernet Sauvignon. Mas, mesmo assim a antiga namorada do namorado que olhava o copo de cerveja tomou coragem e foi até ele e por pouco ele não deixou de olhar o copo para olhar para a antiga namorada, mas para não envergonhá-la disse um olá sem sorrisos Ela sentiu vergonha da atitude infantil dele e ficou triste em perceber que uma amizade tão bonita, uma parceria com confidências tão particulares virou pó e o vento levou. Ela pegou um táxi e voltou para casa pensativa analisando a sua trajetória dos últimos 3 anos. E como foram longos aqueles anos. A vida dela mudou muito ao lado dele, mas mudou mais ainda desde que eles se deixaram. Hoje a moça de sorriso largo está feliz profissionalmente, escreve e fala, coisas que mais gosta de fazer. Ele a ajudou a chegar até ali, a tirou de uma enorme tristeza por diversas vezes e a apoiou a mandar a angústia para escanteio. Ele foi um bom namorado. Ela também foi. Ele se sentia a vontade ao lado dela, e ela o fazia sorrir enquanto o ajudava a ter coragem de enfrentar a vida. A moça morena o respeitava do jeito que ele era, mesmo quando a maioria das pessoas julgava que ele tinha algo errado em seu comportamento. Seus amigos diziam que foi a melhor coisa que aconteceu a ela o fim do namoro, até os amigos dele também repetiam a mesma ladainha para espanto da moça. Ele era seu amigo além de amor. Ela o defenderá de tudo de mal que falarem e o respeitará pelo resto da vida. Ele faz parte da vida dela e ela sempre o levará um pouco em seus novos hábitos. Pena que nem a amizade restou por mero orgulho do antigo namorado. Enfim, ela entendeu que o fim, é mesmo o fim da linha. Claro, nesse caso.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Trinta vezes mais mulher


"Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido(...) Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer"




(BALZAC)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Rato de sebo





Lúcida em excesso

“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”.

Por Clarice Lispector

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Subliminar sou eu


Venho falando muito sobre as tais mensagens subliminares, e senti vontade de pesquisar e escrever sobre esse assunto. E para não falar besteira melhor me apropriar do tema, então vamos lá...Se você já ouviu falar sobre as tais mensagens subliminares, tem uma noção ou talvez nem saiba o que é, mas ainda existem pessoas que fazem muita confusão sobre este assunto. O princípio é de que tudo está em nosso subconsciente, que registra fielmente tudo em nossa vida, o que vemos, sentimos, pensamos, sonhamos, ouvimos, falamos... Tudo.
Como já citei, fiz algumas pesquisas, e antes de qualquer coisa vamos a uma breve explicação do que é Mensagem Subliminar:
"As Mensagens Subliminares resumem-se na tentativa de passar uma informação ou idéia para um grupo de pessoas, de uma maneira abaixo do nível do consciente."
Óbvio, nada mais simples! Explicando melhor, a mensagem quando passada abaixo do nível consciente, passa a ser aceita pela pessoa que a recebe pois não encontra resistência ou oposição, que é criada por nós apenas quando estamos no estado consciente. Um exemplo disso é o sono. Quando sonhamos, deixamos nosso estado consciente e aceitamos tudo como se fosse real, sem oferecer resistência ou oposição. É assim que a mensagem subliminar funciona. Um exemplo claro é você, quando criança, soube que existia o sexo e logo viu que era uma coisa boa. E assim ficou no seu subconsciente, sexo é uma coisa boa. OK, mas logo vieram te dizer que era para esquecer isso, que sexo era uma coisa feia. Simplesmente "enterraram" (bloquearam) a informação anterior de que sexo era uma coisa legal. E esse bloqueio ficou no seu inconsciente, uma espécie de co-piloto, uma tapa buraco mental.
Sendo assim, a mensagem subliminar ultrapassa essas barreiras do consciente e do inconsciente e vai direto à informação de que ela necessita (no caso, de que sexo é uma coisa boa), que se encontra no nosso subconsciente, que tudo registra fielmente, não obtendo resistência ou oposição. Confuso? Tem mais...
A mensagem subliminar pode ser inserida em vários meios: vídeos, músicas, figuras e até em textos. Vai até no twitter... (risos)

Segundo o site Wikipédia:

Mensagem subliminar é a definição usada para o tipo de mensagem que não pode ser captada diretamente pelos sentidos humanos. Subliminar é tudo aquilo que está abaixo do limiar, a menor sensação detectável conscientemente. Importante destacar que existem mensagens que estão abaixo da capacidade de detecção humana - essas mensagens são imperceptíveis, não devendo ser consideradas como subliminares. Toda mensagem subliminar pode ser dividida em duas características básicas, o seu grau de percepção e de persuasão.
A
percepção subliminar é a capacidade do ser humano de captar de forma inconsciente mensagens ou estímulos fracos demais para provocar uma resposta consciente. Segundo a hipótese, o subconscienteé capaz de perceber, interpretar e guardar uma quantidade muito maior de dados que o consciente. Como exemplo, imagens que possuem um tempo de exposição pequeno demais para serem percebidas conscientemente, ou sons baixos demais para serem claramente identificados. Dados que passariam despercebidos pela mente consciente seriam na verdade interpretados e guardados.
A
persuasão subliminar seria a capacidade que uma mensagem teria de influenciar o receptor. Segundo a hipótese, toda mensagem subliminar tem um determinado grau de persuasão, e pode vir a influenciar tanto as vontades de uma forma imediata (fazendo por exemplo, uma pessoa sentir vontade de beber ou comer algo), como até mesmo a personalidade ou gostos pessoais de alguém a longo prazo (mudando o seu comportamento, transformando uma pessoa tímida em extrovertida). Esse grau de persuasão deveria variar de acordo com o tempo de exposição à mensagem, e a personalidade do receptor.
A percepção subliminar é de fato comprovada cientificamente, com inúmeros
experimentos que apresentaram fortes evidências. No entanto, até hoje, a persuasão subliminar não conseguiu ser comprovada, ainda que alguns pesquisadores independentes aleguem terem experimentos que de fato comprovariam a existência da persuasão. Infelizmente até hoje ainda não existe nenhum trabalho publicado em periódicos científicos que confirme essa afirmação, desde a época em que o conceito de mensagem subliminar foi definido.

Agora sim ficou claro, estou quase uma expert em entrelinhas. (risos) Mas, prefiro os meios diretos, claros e sinceros.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Da observação

"Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio..."

Mario Quintana - Espelho Mágico

De: Jullia 8 anos(sobrinha) Para:Karla(tia)Eu amo a minha tia(Karla)

Tia Karla, lembro do dia que eu e você brincamos...Quando eu cheguei para dormir na sua casa e depois do almoço você teve a idéia de nós fazermos um dia de salão de beleza, eu amei.Nós fizemos esfoliação no corpo, hidratação no cabelo, escova, chapinha, fizemos a unha etc...
Lembro também do dia que pegamos a nossa cachorrinha Malu, enrolamos ela no lençol e ela ficou parecendo uma minhoca, toda doida e a gente chamando ela e ela não conseguia ver nada, ficamos rindo muito.

Te amo muito e também amo muito Malu.


Minha sobrinha Jullia postando no meu blog, ela não escreve lindo? Não corrigi nada. Te amo muito também minha "gatuxinha", você é um presente de Deus na minha vida.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Samba de bamba ♪


O homem negro, alto, de braços roliços e voz grossa sentou no bar e pediu uma cerveja estupidamente gelada. Ele era conhecido como Chicote, apelido dado na roda de capoeira do Alto da Sé de Olinda nos anos 70. Dizem que ele dançava na roda com tanta rapidez que lembrava um chicote açoitando a negrada. A cerveja chega e ele sem demora põe um pouco no copo americano, dá um longo gole e lambe os beiços grossos. Seu rosto é marcado pelo tempo, suas roupas muito usadas traziam a elegância dentro da simplicidade. Chicote, tira o pandeiro da sacola e começa a cantarolar um antigo samba. Ali sozinho, nem olhou para o lado. Cantava e bebia sua cerveja, e fechava os olhos nos tons mais altos da música, como se fosse um lamento. Aquele homem garboso de pele escura que cantava Cartola, só podia ser biruta aos olhos dos outros. Para mim ele era a prova que basta apenas uma cerveja gelada e um belo samba para nos fazer companhia.

O primeiro beijo

Ela tomou coragem e disse que nunca foi beijada. Não sabia dar os beijos que via na TV. Ele riu com seus dentes amarelados e sardas no nariz, pegou-a pela mão e saíram andando pelo parque. Ele sentia a mão da menina de 14 anos tremer e suava ao pensar em como seria bom beijá-la. Menina esguia com porte de bailarina, cabelos ondulados na altura dos ombros e sapatinhos de boneca nos pés. Ele sorria para ela e ela desviava o olhar sorrindo timidamente pelo canto da boca. Ele tomou coragem e disse que também nunca beijou, mas isso era um segredo porque seus amigos não poderiam saber, afinal um menino que se preze tem que ter experiências. Ela balançou a cabeça e sorriu, até que ele se aproximou subtamente e a beijou os lábios até que suas línguas se encontraram. Em um sobressalto, a menina correu assustada. E ele continuou de olhos fechados sentindo o gosto da menina em sua boca.

Uma menina


Ana Clara nasceu franzina, com os olhos caídos e miúdos, cabelos castanhos ralinhos. Dava pena até de pegar no colo aquele ser tão mirrado. Olhar triste de criança feliz. Cresceu com os pés descalços, subindo nas árvores, riscando o chão. Morava no mato mas perto da cidade. Criança com alma do interior, que vive perto do caus urbano. Conversava com os cachorros e gatos, corria atrás das galinhas. Cheirava a terra molhada. Clarinha como todos a chamavam, era astuta apesar da timidez, entendia tudo que os adultos falavam. Ela sabia ser silenciosa, observadora e assim fazia com que todos coubessem na palma da sua mão. Ela era pura como toda criança, rezava para o papai do céu sempre que via uma estrela. E nunca esquecia de fazer seus pedidos a Santa Clara, santinha que tinha o mesmo nome que o seu, e que alguém disse que realizava milagres. Ela tinha lápis de cor e tintas coloridas, se deitava no chão e desenhava por horas os seus sonhos. Clarinha sonhava em conhecer o mundo, e nos seus desenhos tinham mar, florestas e até a lua. Quem sabe um dia não se visitaria a lua? Beijava e dava nome a todas as suas bonecas. As de pano eram suas preferidas, principalmente as pobrezinhas que já não tinham mais olhos ou braço. Elas faziam parte de cada brincadeira e eram cuidadas como doentes em fase terminal. A vaidade só nascia na hora de fazer suas trancinhas, impecavelmente arrumadas, que em alguns minutos já estávam um emaranhado de fios soltos. Menina com carinha de anjo, Ana Clara andava dançando, flutuva e chutava bolas. Moleca, corria atrás das borboletas mas sem machucá-las, elas eram suas amigas também. Assim como os sapos, os mosquitos e as joaninhas. Ela pulava amarelinha, muros e corda. Caia no chão e chorava escondido, tinha vergonha das lágrimas. Joelhos machucados e marcas nos cotovelos. Gostava de ser beijada na testa pela sua mãe, e das cócegas que seu pai fazia em sua barriga. Ria com seu sorriso bangelo dos seus 8 anos. E ficava séria de repende com rubor nas bochechas novamente envergonhada. Ela pediu a Papai Noel uma bicicleta de presente, cor-de-rosa e sem rodinhas, mas ela não cabe na meia pendurada na janela. Meia furada menos ainda. Fora que na casa simples no meio do mato não tem chaminé e se deixar a janela aberta os mosquitos fazem a festa durante a noite. Ela pede muito na sua cartinha que ele deixe na porta de casa, mas que não esqueça dela. Seu nariz é pequeno e fino, ar altivo de menina bonita, mas sem jeito, um moleque de tranças. Clarinha que como toda criança, só queria ser criança. Rir de si mesmo. Ter dor de barriga de tanto comer manga no pé.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Machismo

Insegurança é negativo, principalmente se for do sexo masculino. Esse é o meu machismo. Se tem medo, não sai de casa e não conhece ninguém.
Assim como diria a Dona Dora, dona da padaria e da cachorra do Alto da Compadecida, "eu adoro um hôme brabo, me sacode, me sacode"! (risos)

sábado, 5 de dezembro de 2009

A descoberta do amor


“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez. Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.Pois juro que a vida é bonita.”




Por Clarice Lispector

Não entendo. Alguém pode me explicar?


As vezes não me entendo. Outras tantas, não entendo as pessoas. Não entendo a instabilidade, a mudança, os momentos de dúvida. O sim e o não. Não entendo o medo que dá de tudo desandar, mesmo quando você nem ao certo tem certeza se quer que ande. Não entendo como deixamos os rastros ruins de outras pessoas ainda nos perturbarem tanto. Não entendo como em tão pouco tempo, deixamos um sentimento bonito entrar, mesmo quando você talvez nem queira que ele entre. Mas, mesmo assim se deixa a porta aberta, e isso eu também não entendo. Não entendo como se sente falta, vontade de falar e se quer o bem, de quem mal se sabe da vida, da história. Não entendo como é tão difícil dizer não e aprender a ser só. Não entendo como dizer sim, querendo dizer talvez. Não entendo como depois de tantas quedas, o coração ainda é capaz de vibrar. Não entendo como eu não consigo mais entender tantas coisas que antes eu entendia.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A complicada arte de ver


Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".
Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...


O texto acima é de Rubem Alves e foi extraído da seção "Sinapse", jornal "Folha de S.Paulo", versão on line, publicado em 26/10/2004.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Tentando - Amar em paz ♪


"Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz".

Amar em paz - Vinícius de Moraes

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"Caminhando e cantando..."

As vezes me pego presa nos meus pensamentos. Neles discorrem dúvidas frequentes do que será de mim no futuro. Onde estarei daqui a 5 anos, com quem estarei, se terei filhos, se terei um bom emprego, se amarei novamente, se morarei em outro país ou se ainda estarei nessa existência, são perguntas que me faço frequentemente e claro, não obtenho respostas. Seria bom que bolas de cristal existissem e as previsões astrológicas cumprissem exatamente o que dizem, assim como o tarô e o búzios. Eu particularmente não tive muita sorte com esses meios, até hoje eles não acertaram, mais inesperados que eles é o desenrolar da minha vida. Ansiedade? Pode ser, mas o que eu queria mesmo eram certas respostas, estas que poderiam mudar o rumo do meu destino, me fazer seguir pelo caminho correto. Mas, pensando bem? Saber o que vai acontecer deixa a vida tão sem graça, né? Sem surpresas e premeditadas. Lá vou eu me contradizendo novamente. Quero ou não quero saber do meu futuro, oras?!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Momento de indignação

Há uma enorme dificuldade em abrir os olhos das pessoas. Difícil fazer com que a ternura lhes penetre o cérebro. Comovê-las e despedaçar suas almas é fácil. Mas que lucro existe em lhes mudar os sentimentos, se continuam sendo idiotas?