domingo, 18 de julho de 2010

Vôo dos sonhos

Menina dos olhos tristes. Pés descalços na areia. Rosto lânguido. Vestidinho encarnado, velhinho, velhinho... Cabelos emaranhados. Doce como toda criança. Não tinha bonecas ou laços de fita. Nem lápis coloridos. A barriga dóia de fome. Nada queria além de amor. E o amor era poder ser criança. Não entendia os motivos. Ela sentava no chão e quietinha pensava em como tudo poderia ser difente. Ela tinha o dom de voar. Voava como passarinho. Era do vento. Pousava a cabeça nas nuvens e sonhava. Voava para bem longe dali. Da pobreza. E pousava no colo da esperança.

sábado, 10 de julho de 2010

Mudança

Hoje, revendo minhas atitudes impulsivas reconheço que mudei bastante. Estava aflita e havia um fundo de mágoa ou desespero em minha impaciência. E talvez ainda existam gotas daquela vontade exacerbada de mudança. De ter e ser tudo que desejo. Mas, nada aconteceu. Decidi mudar. Não mudei ao meu redor mas mudei dentro de mim. E ainda estou mudando. Aceitando. Deixando acontecer. Apaziguando o coração. Deixando de fazer planos e entregando aos dias a responsabilidade pela minha felicidade.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Longe de mim

Aquela tal da ansiedade me viu passando e acenou pra mim. Fingi que nem a conhecia e segui meu caminho. Quem ela pensa que é para se atravessar assim na minha vida? Ela nada mais é do que uma mera sensação difusa, inexplicável. Uma coisinha de nada que coça como piolho na cabeça. A projeção do querer que ainda não foi realizado na sempre iminente espera. Ela é uma cara de pau, vem mansa e rouba seus pensamentos, e até o dinheiro da carteira. Ela me assalta. Desfaz os sonhos e transforma tudo numa sensação inorgânica e ilusória. Essa puta. Ela quer de toda forma sujeitar-me ao abandono. Ao desconhecido. Ela seduz e quer me tocar. Passe bem longe de mim. Do controle.

terça-feira, 6 de julho de 2010

O novo

O que eu sinto hoje não protagoniza cenas de cinema com batida de claquete, "câmera, ação!". Não tem máscaras em bailes ou carnavais. Está longe do romantismo gratuito das frases feitas. Das palavras bêbadas. Sem fratura exposta que se abre no corpo do outro. E não quero nada disso. Tem a resistência involuntária que me mantém de pé e a malemolência do deitar e rolar. Do deixar acontecer. Dos dedos enlaçados. Dos olhos nos olhos. Dos longos beijos. Som de violão. Esse instrumento está marcado na pele do passado e do presente. Mas só agora, escuto o que eu gosto. O som dele é o meu. Do lado A ao lado B. Eu sinto nos meus gestos os gestos dele. A boemia despretensiosa. Palavras são ditas com quietude e sem recusa, elas jogam limpo. Tudo naturalmente, leve, sem planos. Levo nos bolsos do meu jeans o "seja o que Deus quiser". E a cada momento entendo que somos sempre capazes de sentir vibrar o coração quantas vezes a vida achar necessário. O amor é clarividente. Resiliente. Cisma em voltar a bater a porta. E o recebo como velho amigo e sirvo um café com biscoitos. Tenho um papo sério com ele e prometo parar de dizer que existe uma idade certa, tempo certo, local certo, não existe. Existe eu e como eu decido os meus passos. Eu levo o sentir, o ir e vir. É como diz um trecho de um poema de Drummond "O primeiro amor passou. O segundo amor passou. O terceiro amor passou. Mas o coração continua". E eu continuo querendo o amor em todos os cantos da minha vida. Entre e fique à vontade.

Pedaços

Meu nome não interessa, muito prazer. Sou essa que você me vê e isso basta. Pode invadir ou chegar com delicadeza, mas não tão devagar para não me irritar. Não acredito em gnomos e sapos da sorte, mas bruxas existem. Não costumo voltar atrás em histórias já usadas. Sinto falta dos amigos que perdi com a mudanças. Danço sem ritmo e sem medo de pagar mico. Adoro que "Macacos me mordam". Sou de carne e osso, compulsão e atos de impulsão. A todos trato com cordialidade mas não me incomoda ser as vezes uma "persona non grata". Esqueço de cumprir promessas. Sou um grão microscópico no planeta. Não digo "eu te amo" se não me interessa e se interessa digo sem hora ou data marcada. Sou feita de sonhos interrompidos e dos planos que nunca dão certo. Cada pedaço, a vida se encarrega de me fazer feliz.