domingo, 29 de novembro de 2009

Temperamento impulsivo



“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”


Clarice Lispector

sábado, 28 de novembro de 2009

Um tempo de mim


Dando um tempo. Tempo para abrir os horizontes. Tempo para ver o mar. Tempo para ouvir jazz, blues, e dançar tomando vinho tinto seco. Tempo de se dar e dar oportunidades. Tempo de beijos e outras "cositas más". Tempo de esquecer por algumas horas os compromissos profissionais, as causas sociais, os antigos e novos amigos, as cobranças, a crise financeira mundial, a vinda do presidente do Irã, o "ser ou não ser, eis a questão". Um tempo de mim, do meu stress, da insônia, do mês que falta no meu dinheiro. Não quero nada que tome meu tempo. Então, me dê um tempo! Um tempo para mim. Tempo para estar totalmente offline.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Tons de Porto

De volta a Porto de Galinhas. E, não posso deixar de repetir uma antiga frase minha "Que nunca mais você deixe de pensar em mim quando for a Porto de Galinhas, e escutar Bossa Nova em algum lugar que passar". Dias de sol na praia e noites regadas de vinho e música. A vida é assim, o mesmo lugar, momentos e companhias diferentes, felicidade semelhante. E como diz meu querido Prof. Tedesco "assim, eu vou navegando no barquinho da vida".

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O amor acaba - Paulo Mendes Campos


O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Dois ou três almoços, um silêncio. Fragmentos disso que chamamos de "minha vida"


Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro. Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos. Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas. Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece. De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia. Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria. Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.


Por Caio Fernando Abreu (Publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", 22/04/1986)

A língua girava no céu da boca


"A língua girava no céu da boca. Girava!
Eram duas bocas, no céu único.
O sexo desprendera-se de sua fundação, errante imprimia-nos seus traços de cobre.
Eu, ela, elaeu.Os dois nos movíamos possuídos, trespassados, eleu.
A posse não resultava de ação e doação, nem nos somava.
Consumia-nos em piscina de aniquilamento.
Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino, vulva e fálus em fogo, em núpcia, emancipados de nós.
A custo nossos corpos, içados do gelatinoso jazigo, se restituíram à consciência.
O sexo reintegrou-se. A vida repontou: a vida menor."

Carlos Drumond de Andrade



Extraído do livro "O amor natural", Editora Record – RJ, 1992, pág. 29.
Ilustrador: Caco Xavier

sábado, 14 de novembro de 2009

O Rio Capibaribe por um olhar poético e político


Tu vens de muito longe, há muito tempo, desde que te chamavam de Caapiuar-y-be. Vences barreiras, abres veredas – e chegas aqui qual amante que se aloja no leito da mulher amada: ora forte, exuberante; ora sinuoso, como que a contorcer-se preguiçoso e carente após tremenda peleja. A cidade amada o acolhe sequiosa do teu vigor e do teu afeto. O tempo, porém, sob o vendaval da moderna desordem, perturba a tua relação com a cidade como os desencontros da vida ameaçam uma relação de amor. Já não és mais aquele, que ao olhar do poeta Cabral “Engoliu as terras, engoliu as casas,/Engoliu as cercas/E engordou seu corpo/Engolindo as noites, engolindo os dias.” Fostes envolvido pela sanha do lucro, do fausto, da ambição, da desesperança, da dor, do desamor. Agora, quando tu encontras o teu irmão gêmeo, o Bebyrype, e se abraçam ao encontro do imenso oceano, parece-se enfim derrotado. Mas ainda conservas a energia que brota do teu nascedouro, fonte renovável de tua força; e a cidade, essa amante cruel, como que arrependida, parece enfim acordar da longa noite de insensatez e, envolta pelo clamor da reinvenção da vida busca reiventar-se a si mesma e te reencontrar como dois seres que se amam retornam à pureza do primeiro encontro.

Essa minicrônica escrevi para a revista Perto de Casa, a pedido da editora Taciana Valença, em dezembro do ano passado. A inseri em meu comentário introdutório à audiência pública acerca do tema Impactos econômicos, urbanísticos e ambientais do Projeto Capibaribe Melhor, realizada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara Municipal do Recife, nesta sexta-feira 13, com a participação de gestores públicos e diversificados segmentos da sociedade civil.

É preciso abordar os problemas centrais da cidade com rigor técnico, sim, e sobretudo com sensibilidade e compromisso social. Mais: sem deixar que a denúncia, o protesto e a polêmica – sempre úteis ao processo democrático – nos leve a perder a leveza e a esperança, que dão sentido e beleza à nossa luta em defesa da vida.O Projeto Capibaribe Melhor, pelo qual lutamos desde 2005, na gestão do prefeito João Paulo (de quem fui, com muita honra, vice-prefeito), agora se confirma com o financiamento do BIRD (70% dos 46,8 milhões de dólares orçados). Beneficiará a Bacia do Capibaribe, no trecho da BR 101 à Av. Agamenon Magalhães, proporcionando melhores condições de habitabilidade a 56.349 famílias (116.244 habitantes à margem direita e 109.152 à esquerda). Saneará cerca de 20 áreas à margem do rio e recuperará 11 canais. Construirá 2 pontes, pavimentará 30 ruas e avenidas, implantará uma ciclovia e viabilizará 3 parques.Um projeto de dimensão estratégica para a cidade – que deve ser acompanhado, sim, por toda a sociedade.


Luciano Siqueira- Artigo publicado no site da revista Algo Mais

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Não Comerei da Alface a Verde Pétala


"Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.

Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.

Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: dêem-me feijão com arroz

E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.


(Iludia-se o poeta. Num tempo em que as coisas andaram meio pretas, ele teve que se enquadrar direitinho e andou comendo legumes na água e sal como qualquer outro)".


Vinícius de Moraes - Fonte: www.releituras.com

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Dane-se!

Sem maiores alardes, apenas um desabafo.

O egoísmo é uma merda. Ops! Foi mal...


Descubra se você é um ser despresível e egoísta. Ou seja, um merda!

Egoísmo (ego + ísmo) é o hábito ou a atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com que se relaciona. Neste sentido, é o antônimo de altruísmo.
O
egocentrismo caracteriza-se pela fantasia de imaginar que o mundo gira em torno de si, tomando o eu como referência para todas as relações e fatos. Uma pessoa egoísta pode não ser egocêntrica, uma vez que luta para fazer com que os fatos se amoldem a seus interesses. A pessoa egocêntrica é egoísta, no sentido de que não consegue imaginar que não seja ela a prioridade no mundo em que vive. O egocentrismo é próprio da infância, como passagem para que a criança possa aprender a noção de referência a partir do eu e então aprender.

Natural ou adquirido? Há controvérsia se o egoísmo é uma característica natural humana ou se é um hábito adquirido, como um vício moral da pessoa. A psicologia do desenvolvimento observa que a infância se caracteriza pela passagem de uma atitude naturalmente egocêntrica - em que a criança tem por referência seu organismo e suas necessidades - para uma atitude social e interativa. Deste modo, o egoísmo seria a recusa da pessoa em deixar essa fase infantil, uma luta por manter viva a fantasia do egocentrismo.


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Pedra do caminho

Sinto falta de muitas coisas nessa vida. Tenho saudade de andar de bicicleta na infância e sentir a sensação de liberdade. Saudade do cheiro da comida da minha madrinha nos domingos. Saudade dos amigos de escola que ficaram apenas na lembrança. Saudade dos amigos de infância que fazem parte da minha vida, mas que só vejo nas confraternizações de fim de ano, e olhe lá. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade dos brinquedos que foram tão desejados, mas doados assim que eu cresci e esqueci deles. Saudade de uma cidade do interior onde ia para colônia de férias. Saudade de mim mesma, quando eu tinha mais audácia e menos medo de ser imatura.

Dóem essas saudades todas. Nostalgia dos tempos que já não podem mais ser vividos. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se amou. Que não se sabe mais o nome do que ainda sente ou se ainda sente qualquer coisa. E talvez eu nunca saiba que nome dar a essa saudade. Porque é uma saudade da voz, do cheiro e das manias. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Eu podia ir onde quer que fosse, mas se sabia onde eu estava. Eu podiria ficar um dia sem vê-lo, ou uma semana, mas sabia que esse amanhã existiria. Mas quando um dia o amor de um acabou, ao outro sobrou uma saudade que ninguém sabe deter, nem explicar, nem me dar todas as dicas do mundo, simpatias ou mandingas, mas nada consegue explicar essa saudade que ficou e nem o porque dela ainda existir depois de tantos meses. Saudade que não dá para saber, se vai. Porque dias depois, ela volta. É não saber mais se continua gripando no inverno ou sentindo as suas dores de cabeça tão comuns. Não saber se ainda usa a camisa que eu dei. Não saber se está estudando como prometeu. Não saber se tem comido demais ou de menos, se ainda faz exercícios. Se aprendeu a sorrir nas fotos. Se aprendeu a beber uísque ou se continua apenas na Skol ou Antártica, e se continua odiando cigarro. Se continua gostando de sushi de polvo ou se enjoôu. Se continua sorrindo de si mesmo quando faz algo engraçado ou mesmo "sem graça". Se ele continua sem saber dançar. E se em algum momento pensa se eu estou bem. Bem de saúde, se me formei, se consegui os objetivos que eu tinha traçado. Talvez eu nunca saiba disso. Saudade deve ser mesmo não saber do outro e eu que não entendo. É não saber encontrar modos de parar o pensamento e não se preocupar com que está acontecendo hoje e o que acontecerá amanhã. Não saber como parar de ficar por minutos entristecida diante de uma música, mesmo já fazendo tanto tempo, mas na hora vem a grande explicação, é a falta de notícias. É não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche, e sentir vergonha de dizer para as amigas que ainda sente saudade. Saudade de alguém que me apagou das lembranças, com uma grande borracha chamada distância. E isso eu nunca vivi e espero nunca mais viver em qualquer outra relação. Tantos dias ao lado de alguém, uma amizade e parceria intensos, e simplesmente como um passe de mágica essa pessoa não sabe nem mais quem sou eu. Nem sabe se ainda estou viva. A amizade desapareceu, e isso não faz parte das relações, não assim. Estranho e inusitado quando se davam tão bem e não ouve grandes problemas, além do fim que já era predestinado.

Não se sente mais, e eu não quero que sinta igual ou sequer parecido. Mas eu sinto. Sinto falta de saber notícias.

Mas de forma antagônica, minha saudade também não quer saber. Não quer saber como está seu namoro com outra pessoa, se ela é bonita ou feia, se ele está feliz, se ele está mais magro... Essa saudade não quer nunca mais querer saber de quem se amou, e ainda assim, dói. É cansar de dizer a todos que estou bem, que não sinto mais amor, mais que não quero nada além do que "constante" com outra pessoa. Que quero alguém para voltar a amar, muito mais do que amei essa saudade, e não apenas uma mera companhia que me faça rir. Quero o AMOR com letras garrafais. Estar por estar, prefiro a minha própria companhia, pelo menos ela eu não sinto saudade.

Cair de joelhos dói. Trancar o dedo numa porta dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, uma rasteira, um pontapé, um beliscão...doém. Dói morder a língua, dói cólica, dor de barriga e topada no pé. Mas o que mais dói é a falta de notícias, um esquecimento, o corte de todos os laços. Até o de amizade. Essa saudade é como uma pedra no caminho.