terça-feira, 30 de junho de 2009

Essa não é mais uma carta de amor


Quero acordar do seu lado num domingo de manhã e saber que não temos hora para sair da cama. Estamos sozinhos na sua casa. E, depois, ir tomar café da manhã e ler o jornal com você. Quero ouvir você contar sobre o livro épico que acabou de ler, e falar dos personagens como se fossem velhos amigos. Quero você me olhando entre um gole e outro de café, com cara de sono e cabelo assanhado, sem nada para falar e apenas sorrir, antes de voltar a folhear o caderno de política.

Quero sua mão na minha perna no caminho da sua casa, dentro do carro, no caminho do seu apartamento. Quero deitar na poltrona ao seu lado, encostar a cabeça no seu ombro tomando um vinho tinto seco cabernet sauvignon, assistindo o DVD de Barão Vermelho e cantarolar "porque a gente é assim...". Depois, irmos para o seu quarto e ver você dobrar daquele seu jeito metódico as roupas esquecidas em cima da cama. E que, sem mais nem menos, você desista da arrumação, me jogue na cama desarrumada, me beije e me abrace como nunca fez antes com outra pessoa. E, que me pergunte se eu quero ver um filme mais tarde.

Quero ouvir você falar da sua vida e sonhar com minha imagem no seu futuro, mesmo sabendo que eu provavelmente não estarei lá. Quero que ignore a improbabilidade da nossa jornada e fale da casa que teremos na praia. Quero que você descreva em detalhes da vista que teremos do mar e do jardim da nossa casa. Dos filhos que teremos correndo nesse mesmo jardim. E, que faça tudo isso enquanto passa as mãos nos meus cabelos.

Quero que você dedilhe o violão que te dei e ao cantar lembre dos anos que ele esteve comigo. Que quis aprender a tocá-lo e não toquei. Lembre dos anos que estivemos juntos e que não te toco mais.

Quero que você nunca perca de vista a música da sua existência e que me prometa ter entendido que a felicidade não é um destino, é uma viagem. Escolhemos o roteiro, trilhas e o preço que pagamos. E que, por isso, teremos sido felizes pelos vários domingos na poltrona e pelos sonhos compartilhados enquanto assistiamos filmes com nossas pernas entrelaçadas.

Quero que você acredite que não me deve nada, simplesmente porque os amores mais puros não entendem dívidas ou "dúvidas". Nem mágoas. Nem arrependimentos. Então, que não se arrependa. Da gente. Do que fomos. De tudo que vivemos. Que você saiba que os desentendimentos que tivemos viraram pó. Que as palavras mal ditas se desfizeram no ar. Elas sempre foram banais. Já os sorrisos, brincadeiras, cumplicidades, são mais relevantes na minha memória, mais do que as palavras que um dia me ofenderam. Que você me guarde na memória, mais que nas fotos. Que o nosso diálogo termine com a sensação de ter me degustado por completo, mas como quem sai da mesa antes da sobremesa: com a sensação de que poderia ter se fartado um pouco mais. Sem duplo sentido.

Quero que você saiba que as lágrimas do fim não foram por sua perda. Eu não te perdi, você se perdeu e não soube o caminho de volta. Senti saudade, e muita.

E que, até o último dia da sua vida, você espalhe delicadamente a nossa história para poucos ouvintes, como se ela tivesse sido a mais bela história de amor que já viveu. E, que uma parte de você acredite que ela foi, de fato, a mais bela história de amor da sua vida. Ou que, a que mais foi amado.

Eu não queria me curar de você. Mas, eu me curei, a vida é assim. Ouvi coisas que não queria e nem deveria. Me decepcionei. Mas, cicatriza e voltamos a fazer nossas escolhas, sem medo de cair novamente. Esperando quem sabe nossas vidas se encontrarem novamente e as arestas serem aparadas.Enfim entendi, vou seguir o meu caminho.

Que eu aprenda a me amar mais. E você, a amar mais.

Que nunca mais você deixe de pensar em mim quando for a Porto de Galinhas, e escutar Bossa Nova em algum lugar que passar. E, por fim, que você continue a cochilar na poltrona da sua sala. Sempre. Mesmo quando eu não estiver mais olhando o seu sono tranquilo.

5 comentários:

Patrícia disse...

Dolorozamente BELO! Não sei pelo que passou, mas acabei de ler um texto muito propício para o seu momento. Está em um blog que acompanho.

o blog é: http://anajacomo.blogspot.com/

o texto: O que a gente faz com a dor

Dá uma lida, vale a pena! Boa sorte!

Vanessa Maciel disse...

o meu comentário está no seu outro blog!!!

=)

beijosss

Milla disse...

Eis os ciclos e círculos que a vida insiste em nos preparar na sua mais doce e cruel dinâmica!

C'est la vie

"a toda ação corresponde uma reação" é física isso...é físico isso!

Esperar e degustar dos prazeres que as quedas podem nos proporcionar, como diza o velho chavão:
"Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima"

belo texto linda
beijos

Anônimo disse...

A Crise segundo Albert Einstein.

"Não podemos querer que as coisas mudem, se sempre fazemos o
mesmo. A crise é a maior benção que pode acontecer as pessoas e aos
países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da
angústia assim como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem
os inventos, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a
crise se supera a si mesmo sem ter sido superado.
Quem atribui a crise seus fracassos e penúrias, violenta seu
próprio talento e respeita mais os problemas que as soluções. A
verdadeira crise, é a crise da incompetência. O inconveniente das
pessoas e dos países é a dificuldade para encontrar as saídas e as
soluções. Sem crises não há desafíos, sem desafíos a vida é uma
rotina, uma lenta agonia. Sem crises não há méritos. É na crise que
aflora o melhor de cada um, porque sem crise todo vento é uma carícia.
Falar da crise é promovê-la,e calar-se na crise é exaltar o
conformismo. Em vez disto, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a
única crise ameaçadora, que é a tragedia de não querer lutar para
supera-la."

Nany disse...

Belíssimo texto. De certa forma, a gente acaba se encontrando em algumas minúcias.
=D