terça-feira, 31 de agosto de 2010

Hoje é o meu aniversário

Dizem que a mulher é mais mulher depois dos 30 anos. E de repente, ando me descobrindo no tempo. Antes, vivia no espaço, sem pensar nos minutos, nos dias. E viver no espaço é mais fácil e deslizante. Planar sem medo pela existência. Agora, vejo mais qualidade que quantidade. Tomo goles a menos. E não tenho mais turmas por onde passo, apenas poucos e bons amigos. Hoje depois de tantas aventuras por terras desconhecidas já consegui me autocartografar por inteira. Eu sei quem eu sou. Descobri outra dimensão além dos dedos da mão. E de repente percebi que mesmo juntando os dedos dos pés não consigo dizer a minha idade. Eu não olho mais para o passado, planejo o futuro. E vejo que aquele sonho de viajar o mundo sem roteiro ficou para trás, hoje eu quero uma família. Carrego na minha mala festas, viagens, namoros, bebedeiras, boas e más amizades, além de histórias hilárias. Amei, fui amada e já sofri. Escolhi minha profissão e até hoje não ganhei dinheiro com ela. E ainda não consegui me organizar financeiramente e juntar ao menos R$ 0,50 por mês. A mulher que me tornei prefere sabores requintados ao hot dog. Come bastante pimenta e mostarda sem fazer careta. E tem 10kg a mais que não consegue perder, jogar no lixo. Mas essa mesma mulher, ainda não conheceu outros países, não subiu o Cristo Redentor, não conseguiu o emprego dos sonhos e ainda não foi mãe [meu maior desejo]. E tantos e tantos outros projetos e sonhos. A mulher que eu sou hoje sabe que pode conseguir tudo que deseja, basta trabalhar e ter fé. Não sou madura ainda, digamos que estou ficando doce mas ainda não caí do pé. Estou pronta para aprender com a fase dos 30, ou mais. A minha mãe sempre diz que essa foi a melhor fase da vida dela, onde ela se sentiu mais mulher, mais segura. Acho que isso deve ser genético.

sábado, 28 de agosto de 2010

Eu, Alice

Eu queria viver no mundo de Alice. Um universo caótico [ficcional] feito de fantasia. Nada real, nada a ver com coisa alguma. O País das Maravilhas convida ao estranhamento do mundo desligando Alice [nós] da realidade, que nem sempre é boa — nem sempre é feliz. Os encontros dela nos chamam para usar a capacidade de reordenar as significações, redefinindo nossos próprios limites. E eu preciso disso. Conselhos de uma Lagarta, filosofia profunda que está posta a própria existência em questão. Transformações sofridas e encontros no mínimo inusitados na toca do coelho, longe da família, da escola, das atividades e círculos sociais próximos, a resposta poderá ser errada, porque requer de Alice retomar a própria essência — desconcerto, confrontando sem desvelar-se. Assim como Alice, eu quero desarticular o mundo instituído, sem respostas socialmente aceitas e esvaziadas de significação. Ah, eu tive um sonho tão esquisito! — diz Alice. E assim eu acordasse do sonho para viver a realidade, mas com a capacidade de me maravilhar com as pequenas coisas da vida.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Medo de quê?

Não tenha medo de me perder — seu medo me perde de mim mesma. E de você. Se falares mais, posso me esvair sem que você perceba. Então se debruce sobre o que estamos vivendo, e me olha como sua. Não toma conta apenas do espaço — me toma. Diga quem manda. Seguro — me segure firme. Só assim serei sua por inteiro.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

"Eu vi a mulher preparando outra pessoa..."

E sem entender ao certo o que estava acontecendo, descobriu que alguém estava crescendo dentro dela. O resultado foi positivo. E pensou que ela já não era mais criança, adolescente, mulher e esposa. Ela ia ser mãe, e sua história agora sim iria começar. Os pensamentos flutuavam enquanto a família e os amigos estavam radiantes de felicidade. E lá, dentro dela, o amor passou a existir em sua plenitude.
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(Algumas histórias se repetem na vida de toda mulher. Mas essa ainda não é minha história...ela hoje tem dona e eu sou uma das radiantes amigas)

sábado, 21 de agosto de 2010

Inspiração, contagie-me!




Conclusão

Misturo pessoas e bebidas, ambas dão ressaca. E uma baita dor de cabeça.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Debaixo do braço

Acordes quem sôam com uma velha cantada. O som seduz numa linguagem que só o coração compreende. O violão é o vilão das boas maneiras e das boas moças.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Início do início

Os dois apenas se entreolhavam durante um beijo e outro no sofá da sala. Amassos e abraços. Sussurravam mais do que conversavam — pouco tempo iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos e não sabiam que nome dar ao que estavam sentindo — apenas sabiam que ainda não era o amor. Era algo sem nome. Ela raramente se presenteava com sentimentos que não tem nome. O suor escorria do rosto e as palavras continuavam mudas naquele velho sofá. Para quebrar o silêncio, ele contava piadas e mais piadas sem graça, apenas para vê-la sorrir. E inventava histórias sobre o futuro dos dois para dar esperança de um final feliz para aquele tão breve romance. E isso amedrontava ela, pois um dia já sonhou demais ao ponto de confundir a realidade — tinha medo — medo de se ver nele. Ela não tinha como esconder de si mesma a embriaguez de estarem juntos. E a vontade da sua presença. Ele gostava das bebidas mais fortes sem moderação, das idéias mais complexas e dos sentimentos mais intensos, e apesar de dar medo de uma certa maneira a inspirava. A coragem de ousar é inspiradora. Ele queria mais dela. Ele queria ela na sua vida. E a vida queria fazê-la aprender a enxergar com os olhos do equilíbrio. Equilíbrio entre o coração e a razão. Ela riu sem graça para ele, apagou a luz da sala, e voltou a beijá-lo sem pensar em mais nada.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pressupõe que existem mais coisas entre o céu e a terra. Mas nunca viu, ouviu ou sequer tocou — mas sentiu — perfumando a sua existência. Sentia que precisava de ajuda. Dos que não se pode ver, apenas crer. Da luz que não se limita ao fim do túnel. Da fé inabalável. Precisava perceber que nunca estamos sozinhos. Ela vem aprendendo — aprendendo a caminhar.

domingo, 15 de agosto de 2010

Ninguém duvide

Eu quero sentir como você e aprender a amar novamente — suspirou e baixou os olhos com timidez. E ninguém duvide — ninguém, ninguém — dos meigos olhos que suspiravam. E do coração ainda capaz de amar.

domingo, 8 de agosto de 2010

Prece de Cáritas

Deus, nosso Pai, que Sois todo poder e bondade, daí força àquele que passa pela provação, dai a luz àquele que procura a verdade, ponde no coração do homem a compaixão e a caridade.
Deus! Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação, ao doente o repouso. Pai! Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade, à criança o guia, ao órfão o pai. Senhor! Que vossa bondade se estenda sobre tudo o que criastes.
Piedade, Senhor, para aqueles que não Vos conhecem; esperança para aqueles que sofrem. Que vossa bondade permita aos espíritos consoladores derramarem por toda parte a paz, a esperança e a fé. Deus! Um raio, uma faísca do Vosso amor pode abrasar a terra. Deixai-nos beber das fontes desta bondade fecunda e infinita e todas as lágrimas secarão, todas as dores acalmar-se-ão. Um só coração, um só pensamento subirá até Vós, como um grito de reconhecimento e de amor. Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos com os braços abertos, Oh! Poder. Oh! Bondade. Oh! Beleza. Oh! Perfeição. E queremos de alguma sorte, alcançar Vossa misericórdia.
Deus! Dai-nos a força de ajudar o progresso a fim de subirmos até Vós; dai-nos a caridade pura; dai-nos a fé e a razão, dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o espelho onde se deve refletir Vossa imagem.
Espírito: CÁRITAS
Médium: Madame W. Krill – Bordeaux – França
Psicografada em 25 de dezembro de 1873
Que essa oração possa ajudar a quem precisa de fé.

domingo, 1 de agosto de 2010

Flor de Obsessão

Texto de Nelson Rodrigues

- O adulto não existe. O homem é o menino perene.
- Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.
- A perfeita solidão há de ter pelo menos a presença numerosa de um amigo real.
- Amar é ser fiel a quem nos trai.
- Toda autocrítica tem a imodéstia de um necrológio redigido pelo próprio defunto.
- Só acredito na bondade que ri. Todo santo devia ser jucundo como um abade da Brahma.
- O brasileiro é um feriado.
- Os jardins de Burle Marx não têm flores. Têm gramados e não flores. Mas para que grama, se não somos cabras?
- A burrice é a pior forma de loucura.
- No Brasil quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte. O Otto Lara está certo. O mineiro só é solidário no câncer.
- O carioca é o único sujeito capaz de berrar confidências secretíssimas de uma calçada para outra calçada.
- Num casal, pior que o ódio, é a falta de amor.
- O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira.
- Geralmente, o puxa-saco dá um marido e tanto.
- O carioca é um extrovertido ululante.
- As bodas de prata são, via de regra, uma festa cínica que finge comemorar um amor enterrado.
- O pior cego é o surdo. Tirem o som de uma paisagem e não haverá mais paisagem.
- Os que choram pouco, ou não choram nunca, acabarão apodrecendo em vida.
- Gosto do cigarro que me queime a garganta. O fumo suave não passa de um ópio de gafieira.
- Toda coerência é, no mínimo, suspeita.
- Desconfie da esposa amável, da esposa cordial, gentil. A virtude é triste, azeda e neurastênica.
- Sexta-feira é o dia em que a virtude prevarica.
- Numa simples ginga de Didi, há toda uma nostalgia de gafieiras eternas.
- Há homens que, por dinheiro, são capazes até de uma boa ação.
- Djalma Santos põe, no seu arremesso lateral, toda a paixão de um Cristo negro.
- A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.
- Eu, como artista, se tivesse de escolher um epitáfio, optaria pelo seguinte: — "Aqui jaz Nelson Rodrigues, assassinado pelos imbecis de ambos os sexos".
- Qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado.
- Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.
- Toda família tem um momento em que começa a apodrecer. Pode ser a família mais decente, mais digna do mundo. Lá um dia aparece um tio pederasta, uma irmã lésbica, um pai ladrão, um cunhado louco. Tudo ao mesmo tempo.
- A família é o inferno de todos nós.
- A fidelidade devia ser facultativa.
- O gordo só é cruel na mesa, diante do prato, com o guardanapo a pender-lhe do pescoço.
- D. Helder só olha o céu para saber se leva ou não o guarda-chuva.
- Na mulher, certas idades constituem, digamos assim, um afrodisíaco eficacíssimo. Por exemplo:— quatorze anos!
- O jovem só pode ser levado a sério quando fica velho.
- Hoje, a primeira noite é a centésima, a qüinquagésima. O casamento já é uma rotina antes de começar.
- O ser humano está mais para Lucho Gatica do que para Paul Valéry.
- O que se está fazendo aqui é uma música popular brasileira que não é popular, nem brasileira e vou além: — nem música.
- Aqui o branco não gosta do preto; e o preto também não gosta do preto.
- Amigos, eis uma verdade eterna: — o passado sempre tem razão.
- Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.
- O pobre, para sobreviver, precisa da pornografia.
- O presidente que deixa o poder passa a ser, automaticamente, um chato.
- O ônibus apinhado é o túmulo do pudor.
- É impossível ser ridículo dentro de uma Mercedes.
- Num casamento, o importante não é a esposa, é a sogra. Uma esposa limita-se a repetir as qualidades e os defeitos da própria mãe.
- A pior forma de solidão é a companhia de um paulista.
- No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio e, se quiserem acreditar, vaia-se até mulher nua.
- Uma dor de viúva dura 48 horas.
- Todo óbvio é ululante.
- Toda mulher gosta de apanhar. O homem é que não gosta de
bater.