terça-feira, 3 de novembro de 2009

Pedra do caminho

Sinto falta de muitas coisas nessa vida. Tenho saudade de andar de bicicleta na infância e sentir a sensação de liberdade. Saudade do cheiro da comida da minha madrinha nos domingos. Saudade dos amigos de escola que ficaram apenas na lembrança. Saudade dos amigos de infância que fazem parte da minha vida, mas que só vejo nas confraternizações de fim de ano, e olhe lá. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade dos brinquedos que foram tão desejados, mas doados assim que eu cresci e esqueci deles. Saudade de uma cidade do interior onde ia para colônia de férias. Saudade de mim mesma, quando eu tinha mais audácia e menos medo de ser imatura.

Dóem essas saudades todas. Nostalgia dos tempos que já não podem mais ser vividos. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se amou. Que não se sabe mais o nome do que ainda sente ou se ainda sente qualquer coisa. E talvez eu nunca saiba que nome dar a essa saudade. Porque é uma saudade da voz, do cheiro e das manias. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Eu podia ir onde quer que fosse, mas se sabia onde eu estava. Eu podiria ficar um dia sem vê-lo, ou uma semana, mas sabia que esse amanhã existiria. Mas quando um dia o amor de um acabou, ao outro sobrou uma saudade que ninguém sabe deter, nem explicar, nem me dar todas as dicas do mundo, simpatias ou mandingas, mas nada consegue explicar essa saudade que ficou e nem o porque dela ainda existir depois de tantos meses. Saudade que não dá para saber, se vai. Porque dias depois, ela volta. É não saber mais se continua gripando no inverno ou sentindo as suas dores de cabeça tão comuns. Não saber se ainda usa a camisa que eu dei. Não saber se está estudando como prometeu. Não saber se tem comido demais ou de menos, se ainda faz exercícios. Se aprendeu a sorrir nas fotos. Se aprendeu a beber uísque ou se continua apenas na Skol ou Antártica, e se continua odiando cigarro. Se continua gostando de sushi de polvo ou se enjoôu. Se continua sorrindo de si mesmo quando faz algo engraçado ou mesmo "sem graça". Se ele continua sem saber dançar. E se em algum momento pensa se eu estou bem. Bem de saúde, se me formei, se consegui os objetivos que eu tinha traçado. Talvez eu nunca saiba disso. Saudade deve ser mesmo não saber do outro e eu que não entendo. É não saber encontrar modos de parar o pensamento e não se preocupar com que está acontecendo hoje e o que acontecerá amanhã. Não saber como parar de ficar por minutos entristecida diante de uma música, mesmo já fazendo tanto tempo, mas na hora vem a grande explicação, é a falta de notícias. É não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche, e sentir vergonha de dizer para as amigas que ainda sente saudade. Saudade de alguém que me apagou das lembranças, com uma grande borracha chamada distância. E isso eu nunca vivi e espero nunca mais viver em qualquer outra relação. Tantos dias ao lado de alguém, uma amizade e parceria intensos, e simplesmente como um passe de mágica essa pessoa não sabe nem mais quem sou eu. Nem sabe se ainda estou viva. A amizade desapareceu, e isso não faz parte das relações, não assim. Estranho e inusitado quando se davam tão bem e não ouve grandes problemas, além do fim que já era predestinado.

Não se sente mais, e eu não quero que sinta igual ou sequer parecido. Mas eu sinto. Sinto falta de saber notícias.

Mas de forma antagônica, minha saudade também não quer saber. Não quer saber como está seu namoro com outra pessoa, se ela é bonita ou feia, se ele está feliz, se ele está mais magro... Essa saudade não quer nunca mais querer saber de quem se amou, e ainda assim, dói. É cansar de dizer a todos que estou bem, que não sinto mais amor, mais que não quero nada além do que "constante" com outra pessoa. Que quero alguém para voltar a amar, muito mais do que amei essa saudade, e não apenas uma mera companhia que me faça rir. Quero o AMOR com letras garrafais. Estar por estar, prefiro a minha própria companhia, pelo menos ela eu não sinto saudade.

Cair de joelhos dói. Trancar o dedo numa porta dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, uma rasteira, um pontapé, um beliscão...doém. Dói morder a língua, dói cólica, dor de barriga e topada no pé. Mas o que mais dói é a falta de notícias, um esquecimento, o corte de todos os laços. Até o de amizade. Essa saudade é como uma pedra no caminho.

Nenhum comentário: